ENTRE O DESAFIO E O ENTUSIASMO NO REGRESSO À ESCOLA: Questionar o sucesso em função de resultados em idade escolar

O regresso à escola representa para muitas crianças e famílias um período particularmente gratificante em função do retomar das vivências e experiências que o próprio contexto proporciona. Ainda assim, pode ser desafiante retomar rotinas e estabelecer novos horários e hábitos. Para além disso, é comum antecipar as dificuldades deste regresso. Para muitas crianças este período é pautado por níveis elevados de preocupações devido às exigências esperadas. Também para a família surgem inseguranças. Muitas vezes, independentemente do seu ciclo de estudos, já antecipam o futuro profissional das crianças. Demonstrar inseguranças sobre o futuro pode condicionar as suas escolhas profissionais. O papel da família e da escola passa por atenuar as exigências deste percurso, promovendo-lhes a segurança e o acolhimento que tanto necessitam.

Sabemos que crianças que se sentem seguras das suas capacidades de aprendizagem e possuem um sentimento geral de competência, exibem comportamentos de interesse e motivação para as tarefas escolares e, dessa forma, mantêm valores elevados de autoestima. Por outro lado, resultados escolares negativos conduz a um processo inverso. Esta condição parece surgir da importância que é dada aos números. Reduzir a escola aos resultados escolares é desvalorizar a importância de outras aprendizagens que são fundamentais para o bom desenvolvimento das crianças.

As crianças e as famílias merecem uma escola onde aprendam sobre inteligência na sua multiplicidade – numa relação entre os domínios emocional, intelectual, social, físico e relacional, cruciais para um desenvolvimento integrativo. Como é que podemos minimizar o impacto negativo perante o insucesso nos resultados? Em primeiro lugar, a família assume um papel facilitador no decorrer de um percurso que se quer feliz. A perceção que a família tem sobre a criança, positiva ou negativa, afeta a sua auto estima e motivação. Corresponder às exigências e expetativas de adultos aumenta as preocupações sobre os resultados, compromete o bem estar e a confiança. Os resultados escolares não definem o sucesso e a felicidade na idade adulta, e isto é um ponto importante de reter. Não é esperado que aprender nos tire saúde! Pelo contrário, é importante que mesmo perante possíveis dificuldades as crianças mantenham-se motivadas para enfrentar desafios, desenvolvam competências para a resolução de problemas, manifestem curiosidade e interesse, sintam-se mais seguras, e em consequência disto, aprendam mais, relacionem-se melhor consigo mesmas e com os pares. Estes fatores aumentam a probabilidade de fazer um percurso escolar gratificante. E para isto acontecer necessitam do apoio e da confiança das várias pessoas envolventes.

As escolas têm um papel crucial a desempenhar. Devem reconhecer e responder às necessidades diversas de todas as crianças. Para isso, precisam de identificar os seus estilos e ritmos de aprendizagem e assegurar uma educação de qualidade. E a educação implica troca, relação e comunicação. É por isso que o processo de inclusão deve envolver famílias, escolas, organizações, afirmando-se como aliados na criação das condições necessárias para as crianças.

O envolvimento da família na escola é essencial e nem sempre fácil, mas gera resultados muito positivos, elimina obstáculos, contribui para o bom desempenho, organização e sucesso escolar. E, porque a aprendizagem se alicerça no convívio, é preciso também proporcionar tempo à família para estarem com as crianças. E este tempo, sendo de qualidade, vai contribuir para a relação, proporcionando momentos felizes a todas as pessoas. E a felicidade é um fator absolutamente crucial. É o motor da aprendizagem, do rendimento escolar, do sucesso educativo e do bem estar  geral.

 

Tiago Martins

Psicólogo da Infância e Adolescência

mim – Clínica do Desenvolvimento