Desde o nascimento, as crianças procuram relacionar-se com o outro. Apesar da possibilidade de outras menores, a vinculação mãe-filho tende a constituir-se como mais importante que qualquer outra – uma conexão que começa antes do nascimento. A mãe cuida e estimula pelo olhar, fala e afeto e a criança vai-se desenvolvendo física e emocionalmente.
A qualidade desse vínculo e a maneira como se forma também tem impacto na construção da identidade e está relacionada com vários aspetos do funcionamento da criança, incluindo a sua auto estima e competências cognitivas e sociais.
Assim, a ligação à mãe deve traduzir tranquilidade e segurança para explorar o meio e desenvolver mecanismos para lidar com o stress com a certeza de que possa recorrer à sua proteção, em caso de ameaça. Uma criança segura vai construir um modelo de um cuidador responsivo, confiável e percecionar-se como merecedor de atenção e amor. Esta vinculação é indicador de futuras relações próximas na infância, adolescência e idade adulta
Dificuldades no estabelecimento desta relação, nos primeiros anos de vida, pode resultar em padrões de comportamentos desajustados e em dificuldades na regulação emocional da criança que passa a ver o mundo como um lugar perigoso, insegura do seu valor e apresentando-se pouco confortável no relacionamento com os demais.
A não disponibilidade emocional da mãe e sensibilidade para as necessidades da criança ou a rejeição, a inconsistência das suas respostas, com reações imprevisíveis ou maus tratos e experiências traumáticas podem potenciar impulsividade, problemas de concentração e baixa tolerância à frustração, problemas comportamentais como hostilidade, agressividade e comportamentos antissociais
Representações desta relação preferencial são internalizadas pela criança e cria um modelo que usa para prever e relacionar-se com o ambiente externo e, assim, influenciará futuras relações interpessoais.
Deste modo, as experiências afetivasvividas com a mãe têm o potencial de influenciar a personalidade de uma criança. Se é tratada com carinho, ternura e com uma comunicação não violenta, provavelmente reproduzirá este registo nas suas interações com outras crianças e adultos, o que é indicativo de que essas experiências afetivas estão a solidificar-se na sua personalidade.
Portanto, a mãe carrega uma das maiores responsabilidades – uma vez que é através dela que a criança canaliza a sua perceção da realidade, a fim de se descobrir nela. Todavia, é preciso saber quando dar, o que dar e quanto dar. Ser hipersensível às necessidades da criança pode ser contraproducente.
Ainda que se saiba da importância de uma mãe próxima, disponível a escutar, compreensiva e carinhosa, os filhos precisam igualmente de mães que saibam dizer que não, estabelecer o que é certo e errado e quais os limites a ser respeitados.
Quando as mães são só amigas dos seus filhos, estas deixam de cumprir a sua função e os filhos crescem sem limites, controladores, inseguros por falta de um modelo firme e seguro podendo comprometer a construção de uma personalidade saudável.
Ser mãe é, muitas vezes, suportar a frustração de ser odiada por os seus filhos nos momentos em que, pelo amor a eles, as mães têm de educar, colocar limites e estabelecer regras. Na construção de uma personalidade saudável, educar é também frustrar.
Maria de Castro Ribeiro
Psicóloga Clínica
mim – Clínica do Desenvolvimento