A IMPORTÂNCIA DE FÉRIAS EM FAMÍLIA E DE CONSTRUIR ESPAÇOS DE VIVÊNCIA DE CASAL

Apesar dos avanços tecnológicos, o estilo de vida moderno trouxe inúmeros desafios às relações humanas. Vivemos numa era marcada pelo ritmo acelerado, pela atenção fragmentada entre ecrãs e somos consumidos pelas pressões constantes para corresponder a desafios profissionais e pessoais. Vivemos em piloto automático e são os relógios que ditam o ritmo dos nossos dias. Enquanto adultos, desempenhamos múltiplos papéis em simultâneo: somos profissionais, cônjuges e pais – e conciliar todos estes papéis é, cada vez mais, um desafio. Muitos adultos referem não ter tempo para estar com os seus filhos ou parceiros. Outros sentem dificuldade em ligar-se emocionalmente, mesmo estando fisicamente presentes. Passar tempo de qualidade exige envolvimento, atenção plena, partilha e afeto, e estes momentos são determinantes para o fortalecimento dos vínculos e da saúde das relações. Por isso, parar torna-se tão difícil quanto necessário. É nos momentos de pausa que nos conectamos realmente. Mais do que momentos de lazer, as férias em família assumem um papel vital no equilíbrio afetivo, na reconstrução emocional e no desenvolvimento familiar.

As experiências em família trazem importantes benefícios não só para as crianças, mas também para os adultos. São excelentes oportunidades para criar memórias afetivas que transcendem o conceito de “boas lembranças”, assumindo-se como referências internas de amor e segurança, que servirão como âncoras para futuros desafios. São momentos em que pais e filhos se conectam verdadeiramente e se dedicam à relação, permitindo romper padrões relacionais desajustados, reconstruir vínculos e criar uma relação baseada no diálogo, na partilha e na compreensão mútua. Além disso, as férias assumem um papel importante na aprendizagem das crianças, fomentando o pensamento crítico, a resolução de problemas e a resiliência. Para os pais, dedicar tempo de qualidade em família representa abandonar o peso da obrigação e assumir o papel da presença. Isto permite-lhes reequilibrar-se do desgaste das rotinas e tomar consciência do prazer de ser cuidador. Brincar, fazer caminhadas na natureza, montar puzzles, cozinhar em família ou simplesmente partilhar uma refeição sem a pressão do relógio, são atividades simples que podem representar balões de oxigénio para todos os envolvidos.

No entanto, não nos podemos esquecer da relação conjugal. Ser mãe e pai implica responsabilidade, presença e dedicação – natural e inevitavelmente. Não obstante, o papel parental não deve absorver a atenção do casal, sob o risco de tornar secundária aquela que é a base da estrutura familiar. Uma vez negligenciada, a relação conjugal torna-se meramente funcional e vulnerável ao desgaste emocional causado pelos fatores externos. Assim, dedicar tempo de qualidade ao casal não deve ser visto como um ato de egoísmo, mas sim como um investimento no bem-estar familiar. Quando o casal está emocionalmente conectado, toda a família beneficia com isso: os pais sentem-se mais felizes, apresentam menos stress percebido e têm maior propensão para adotar estilos parentais adaptativos. Isto traduz-se numa maior estabilidade emocional nos filhos, no desenvolvimento de competências de autorregulação e numa maior perceção de segurança no seio familiar.

Cuidar da relação conjugal é mais do que partilhar responsabilidades e tarefas – é manter viva a base familiar. E cuidar da família é mais do que cumprir responsabilidades – é nutrir vínculos. Relações familiares saudáveis constroem-se quando escolhemos parar, escutar e estar inteiramente presentes. E esta presença é o melhor que podemos oferecer aos nossos filhos, aos nossos parceiros e a nós próprios.

Filipa Lopes

Psicóloga da Infância e Adolescência

mim – Clínica do Desenvolvimento