PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL: CONHECER E INTERVIR

“Hã?”, “o quê?”, “diz?” Todos nós já nos deparamos com estas expressões no nosso dia-a-dia. A criança parece não compreender o que foi dito, ficando sem saber como agir ou simplesmente emitindo um “hã?”. Muitas vezes este sinal é desvalorizado e achamos que a criança “não ouviu”. Contudo, a audição não se relaciona exclusivamente com a capacidade de detetar os sons, mas também é responsável por processar o som e interpretá-lo, dando-lhe significado.  Esta capacidade do sistema nervoso central denomina-se Processamento auditivo central.

O processamento auditivo central é responsável pela localização sonora, discriminação auditiva, atenção seletiva, compreensão/memória auditiva, o reconhecimento auditivo e a análise dos aspetos temporais da audição. Quaisquer dificuldades nestas competências influem negativamente no desenvolvimento linguístico, na aquisição da leitura e escrita e, consequentemente, no desempenho escolar da criança.

As consequências de uma perturbação do processamento auditivo central (PPAC) são diversas e as crianças com PPAC tendem a apresentar reações exageradas a sons intensos, dificuldade em seguir instruções verbais e em compreender a mensagem em ambientes ruidosos. Também é muito frequente apresentarem lacunas na compreensão da leitura, na compreensão de palavras com duplo sentido, inversão de letras na escrita e dificuldade na articulação de alguns fonemas (r,l,s,z).  A desatenção e o baixo desempenho escolar também estão muito associados a perturbações do processamento auditivo central.

Assim sendo, torna-se fundamental observar os contextos em que a criança está inserida de modo a analisar as condições acústicas dos mesmos para, se necessário, reajustá-las. A diminuição do ruído de fundo dos contextos, principalmente na sala de aula e o posicionamento da criança próxima do professor e num local com menos barulho possível, por exemplo afastada das janelas ou corredores, são ajustes fundamentais. Além disso, é recomendado aumentar o tempo das atividades que impliquem ouvir/escrever, criar locais de estudo sem fontes de distração, auxiliar a informação transmitida oralmente com informação visual e utilizar instruções verbais mais curtas, claras, pausadas e com contacto visual.

Importa salientar que o Processamento Auditivo Central assume um grande impacto no processo de aprendizagem e no desempenho escolar e, como tal, é crucial a sua deteção e intervenção com o treino auditivo junto de profissionais da Terapia da Fala com formação nesta área, bem como dotar os pais e professores com estratégias que facilitem todo o processo. 

Ângela Lopes

Terapeuta da Fala

mim – Clínica do Desenvolvimento