As consequências da pandemia que atravessamos saltam: em crianças e jovens, nos pais, nas famílias. Talvez o pior possa já ter passado, mas o que é certo e que ainda não vivemos tempos tranquilos e a frase “Quando é que tudo isto acaba?” ecoa nas nossas cabeças.
Sentem-se as famílias desgastadas, crianças mais irritadiças, ansiosas, instáveis cujos pais sentem dificuldade em compreender, controlar, ajudar…
Sentem-se os jovens mais apáticos, desmotivados em relação à escola e com mais sintomatologia ansiosa e depressiva. Isolam-se em casa, tendendo a refugiar-se no telemóvel, em jogos e redes sociais. Novamente a família apresenta dificuldade em aproximar-se e compreender o que sentem…
Sentem-se os pais cansados, mais desorganizados, impacientes, com menor capacidade para lidar com as pequenas vicissitudes diárias…Pais que, muitas vezes em consulta, procuram ajuda para os seus filhos mas claramente são eles que (também) necessitam de ser apoiados e orientados.
De facto assistimos, nesta era pandémica, a muitas mudanças no nosso quotidiano, nas dinâmicas familiares, nas relações interpessoais, nos afetos, menos paciência até para as pequenas tarefas e/ou em relação àqueles comportamentos e atitudes que eram desvalorizados ou eram mais facilmente tolerados antigamente…
Questões que se colocam: E agora? O que fazer? Como reagir? Como reconstruir? Como voltar ao que éramos há mais de um ano? Será isso possível?
Talvez nada volte a ser como dantes e talvez certas mudanças na sociedade, nos contextos de trabalho, nas escolas e nas famílias tenham vindo para ficar porque, no fundo, se tornaram em hábitos, em novas rotinas.
Mas há outras que poderão reativar-se para que a saúde psicológica seja preservada e consigamos recuperar, em muitas situações, a alegria e vontade de ser o que já fomos ou aquela espontaneidade de outros tempos…
Apesar de, por vezes, podermos duvidar da nossa resiliência, existe em nós uma enorme capacidade, mais ou menos desenvolvida, de adaptação a novas situações e adversidades! Manter e reforçar o equilíbrio pessoal e emocional é o mote para a recuperação de tempos difíceis.
Como tal, é crucial, nos dias que vivemos, reavaliar as prioridades e objetivos pessoais, investir no autocuidado: valorizar as rotinas diárias que ajudam a criar previsibilidade, conforto e organização ao nosso dia-a-dia; procurar voltar a realizar aquelas atividades que nos davam prazer e que se tornavam uma lufada de ar fresco naquele dia ou na semana, ajudando a reduzir o stresse, a ansiedade e a adquirir maior estabilidade emocional.
Precisamos também de reaver aquelas estratégias que um dia já resultaram na resolução de situações difíceis e que farão sentido agora. Já todos vivenciamos momentos de provação ao longo da vida e as competências adquiridas para lidar com elas, e até supera-las, permanecem até hoje, ainda que talvez de uma forma menos consciente.
É igualmente importante aprender a gerir emoções negativas: estar triste, aborrecido ou frustrado é normal, sentir-se cansado, irritado ou sem paciência também! Mas não podemos esquecer que estas emoções não duram para sempre…Falar sobre elas, partilhando com familiares e/ou amigos pode ajudar a sentirmo-nos melhor, validando estes sentimentos como naturais e adequados a estes tempos. Pode também ser necessário procurar ajuda especializada junto de um Psicólogo.
Por fim, vivamos o presente, um dia de cada vez, aceitando a incerteza e imprevisibilidade do futuro. O presente é o único momento que podemos controlar.
Helena Costa
Psicóloga da Infância e Adolescência
mim – Clínica do Desenvolvimento