DÓI-ME A BARRIGA, MÃE!!!
A dor abdominal é uma causa muito frequente de procura de cuidados médicos na infância, felizmente apenas uma pequena percentagem dos meninos tem algum problema na barriga! Muitas vezes o que a criança tem são dores funcionais. Chama-se funcional porque não é causado por nenhuma doença digestiva, nem qualquer outro problema médico. Isto não significa que a dor seja imaginária, aliás trata-se de uma dor real que pode afetar negativamente a vida da criança.
O que a produz?
O seu mecanismo exato não se conhece, mas sabe-se que está relacionado com uma perceção exagerada dos movimentos intestinais, no fundo uma disfunção entre o sistema nervoso e intestino.
Quais são os sintomas?
A dor pode ter qualquer localização no abdómen, geralmente é difusa. Pode ser continua ou intermitente, não tem relação com as refeições, nem com o funcionamento do intestino. Os episódios de dor ocorrem pelo menos 4 vezes por mês, durante no mínimo 2 meses.
Como se diagnostica?
O diagnóstico é clínico, o que significa que por princípio não há necessidade de fazer exames. Importa colher bem a história clínica e observar a criança. Dependendo do tipo de sintomas, às vezes classificamos dentro de um tipo de dor abdominal funcional específico: como síndrome do intestino irritável, dispepsia funcional, ou migraine abdominal, cujo tratamento pode ser diferente. É importante perceber se há algum elemento stressante da vida da criança que possa estar relacionado como desencadeante da dor (mudança de escola, conflitos em casa, morte de familiares…).
Existem alguns sinais de alarme que podem indicar que a dor não é funcional e que por isso pode obrigar a estudo adicional: história familiar de doença inflamatória intestinal, vómitos, febre, dejeções noturnas, perda de peso, perda de sangue na dejeção, dor ao engolir, lesões junto ao ânus, paragem de crescimento.
Como se trata?
Geralmente os medicamentos analgésicos (paracetamol e ibuprofeno) não resultam. É importante tranquilizar a criança e a sua família de que não existe uma doença orgânica. Algumas medidas simples como a massagem suave ou aplicação de calor local podem resultar. Em algumas situações pode ser necessário apoio psicológico para ajudar a ultrapassar esta fase da vida da criança. É frequente que com o tempo a dor tenda a melhorar por si própria.
FILIPA NEIVA
Pediatra
mim – Clínica do Desenvolvimento