O ISOLAMENTO SOCIAL E AS NOVAS TECNOLOGIAS:
– colocar os equipamentos eletrónicos de quarentena
Numa época em estamos confinados ao nosso espaço domiciliário, a tentar conjugar de forma harmoniosa as necessidades de cada elemento familiar, desde a necessidade de brincar dos mais novos, às tarefas escolares dos mais crescidos, ao teletrabalho dos adultos e às atividades domésticas, torna-se difícil para os pais monitorizar todos os momentos livres dos seus filhos. Esta realidade dá azo para uma utilização, com poucas restrições, dos equipamentos eletrónicos.
De facto, o recurso às novas tecnologias permite que as crianças se mantenham calmas e “ocupadas” por um período alargado de tempo, dando aos pais momentos de tranquilidade. No entanto, se tivermos em conta os estudos mais recentes, verificamos que este recurso pode assumir caraterísticas de dependência… e não podemos ignorar que este período de isolamento social se prevê longo, dando tempo para o desenvolvimento de um padrão de funcionamento patológico, mesmo nos mais novos.
A dependência das novas tecnologias carateriza-se pela dificuldade em controlar o uso dos equipamentos eletrónicos, afetando significativamente a qualidade de vida social e familiar em qualquer idade. O uso e abuso da internet é o exemplo mais flagrante, tendo se verificado que as pessoas que a utilizam em excesso apresentam níveis mais elevados de depressão, ansiedade, sensação de isolamento e/ou problemas a nível da estrutura cerebral.
Uma vez que estamos todos em casa, esta é uma ótima oportunidade para aprendermos a desligar ou moderar o uso de telemóvel, computador, televisão, tablet e/ou internet, e combater a dependência dos equipamentos eletrónicos, através do estabelecimento de um conjunto de regras e estratégias que potenciem uma maior independência destes equipamentos, favorecendo as relações familiares/interpessoais.
O primeiro ponto a ter em cota deverá ser a reestruturação da dinâmica familiar e a imposição de princípios e limites de utilização. Para tal, tenha em conta os seguintes princípios:
– Elabore uma lista de regras para a utilização de equipamentos eletrónicos:
Tenha em conta que as regras estabelecidas devem ser cumpridas por todos, sem exceção. Frequentemente verifique se todos estão a cumprir as regras e ajuste-as, se necessário. Sabemos que as novas tecnologias vieram para ficar, não podemos negar que elas existem, pelo que, ao invés de se proibir a sua utilização, é fundamental integrá-las adequadamente na nossa vida quotidiana.
– Defina espaços livres de novas tecnologias em casa:
Ao definir espaços da casa livres de equipamentos eletrónicos (p.ex.: cozinha, quarto, escritório…), evita o contacto visual com esses dispositivos e a tentação de estar a verificar frequentemente o smartphone ou o tablet.
– Estabeleça um horário para a utilização dos equipamentos eletrónicos:
Definir um horário ou um tempo diário de utilização de equipamentos eletrónicos, permite estabelecer limites de uso e consegue moderar o acesso à internet, sem discussões nem proibições radicais. Pode, por exemplo, estipular uma bolsa de horas diária, em que dentro desse período as crianças podem usar as novas tecnologias livremente. Evite a sua utilização perto da hora de dormir, os ecrãs interferem na qualidade e duração do sono.
– Organize atividades e momentos livres de novas tecnologias:
Crie momentos em família sem tecnologias. Organize campeonatos de jogos de tabuleiro ou mesmo reuniões sobre temas a combinar. Estes eventos promovem e reforçam os laços sociais e familiares. Os momentos das refeições são também uma ótima oportunidade para se estar em família, com calma e sem equipamentos eletrónicos. A refeição é um momento de partilha que não deve ser monopolizada pela televisão ou telemóvel.
– Seja um modelo:
Não podemos implementar uma regra nova sem dar o exemplo. Para tal, habitue-se a não ter o telemóvel sempre ao seu lado e evite estar a consultá-lo constantemente. O melhor é voltar a colocar a pilha no relógio, para que a tentação de pegar no telemóvel para ver as horas seja menor.
– Não se preocupe com o aborrecimento dos seus filhos:
O tédio e o aborrecimento, raro nos tempos atuais (as crianças estão sempre ocupadas ou com equipamentos eletrónicos), é muito benéfico. É nestes momentos, por excelência, que a criatividade é estimulada.
Paulo R. C. Coelho
Psicólogo da Infância e Adolescência
mim – Clínica do Desenvolvimento