Nos dias que correm ser pai ou mãe tornou-se uma tarefa muito exigente. Se digitarmos “parentalidade” no Google, aparecem-nos uma quantidade infindável de artigos, teorias e filosofias sobre parentalidade, que colocam todos os pais na busca incessante do mito da “parentalidade perfeita”. Temos assistido a uma crescente preocupação dos pais sobre a educação dos seus filhos, a um questionamento exasperante que os deixa muitas vezes no limbo “afinal o que é correto?”…. A verdade é que todos sabemos que não existem respostas certas, e que a estratégia que funciona com uma criança, poderá não funcionar com outra. Porquê? Porque a parentalidade é como um tango, é dançada a dois, e nesta equação não pesam só os fatores inerentes a quem é educado, mas também de quem é educador.
As novas abordagens da parentalidade quiseram trazer para uma posição mais central esta relação dual que é a parentalidade, e desfocar da relação uniderecional, fazendo perceber que a parentalidade é uma relação baseada no respeito mutuo, que resulta de um vínculo seguro que é estabelecido entre pais e filhos. Uma dessas abordagens é a parentalidade positiva. Um dos pressupostos base desta abordagem é a atenção positiva, ou seja, dar mais atenção aos comportamentos positivos. Tipicamente, tendemos a sinalizar todos os comportamentos negativos dos nossos filhos, mas se a criança arrumou os seus brinquedos, consideramos que não fez mais do que a sua obrigação e não tendemos a elogiá-la. Ora a matemática do comportamento, diz-nos que um comportamento reforçado terá tendência a ocorrer mais vezes… se reforça mais os negativos, porque lhe dá mais atenção, serão esses os mais repetidos.
Não caiamos no erro de pensar que a parentalidade positiva é condescendente e permissiva. Muito pelo contrário, uma das suas bases é a de que a criança deve ser responsabilizada pelo seu comportamento. Todavia, considera que a comunicação com a criança, não deve residir num autoritarismo “eu mando tu obedeces”, mas sim numa linguagem de afeto e de respeito, em que as necessidades da criança são tidas em consideração, mas de acordo com as regras e os limites que são importantes para o contexto. O respeito conduz à cooperação e não à simples obediência, o que significa que a criança integra a regra e o limite porque o percebe, porque também está ajustado às suas necessidades e não simplesmente porque “tem de ser assim”.
– Mas, e quando as coisas não correm bem? Quando eles decidem não cooperar? Quando decide não cooperar a criança deve ser responsabilizada, devendo ser atribuídas consequências lógicas e naturais ao seu comportamento. As consequências naturais advêm do próprio comportamento, não quer vestir o casaco, vai sentir frio. No entanto, quando não é possível a intervenção das consequências naturais, devemos desenvolver consequências lógicas. As consequências lógicas devem estar relacionadas com o comportamento, não são castigos, mas sim uma forma de ajudar a criança a aprender sobre responsabilidade, contribuindo para o seu desenvolvimento emocional e comportamental. Por exemplo, se a criança faz birra porque não quer ir para a cama, pode, por exemplo, retirar a história antes de dormir.
Porque é que se deve evitar as palmadas? Porque com a punição física, a criança cessa o comportamento para proteger a sua integridade. Mas, o que estamos a ensinar-lhe? Geralmente, a palmada vem depois de tentadas outras estratégias, portanto o que estamos a ensinar à criança é que, quando nada resulta, gritar ou bater pode ajudar a resolver.
A parentalidade é um exercício de amor, é um processo e uma aprendizagem contínua, porque os filhos, como popularmente dizemos, “não trazem manual de instruções”. Não existe uma parentalidade perfeita, existirão sempre dias mais exigentes e mais difíceis, e nem sempre conseguiremos fazer o que é o mais recomendado, mas são esses dias que conduzirão a uma necessidade de querer fazer diferente e a uma relação mais harmoniosa com seus filhos.
Helena Pereira
Psicóloga da Infância e Adolescência
mim – Clínica do Desenvolvimento