Qualquer sistema educativo tem como uma das finalidades primordiais o desenvolvimento das competências da leitura, uma vez que se constitui como uma aquisição inicial e funciona como base de todas as restantes aprendizagens.
A leitura assenta no reconhecimento de um léxico e esta torna-se funcional quando o leitor é capaz de decifrar e reconhecer as palavras, mesmo sendo desconhecidas. Este processo encontra-se adquirido por volta dos 8 anos de idade. A partir deste momento, os leitores continuam a melhorar a eficiência da leitura, mas o processo envolvido é o mesmo. Todavia, há crianças que revelam dificuldades nestas aquisições, apresentando uma dificuldade de aprendizagem específica na área da leitura, mais conhecida como dislexia.
As crianças com dislexia apresentam dificuldades específicas na fluência, no reconhecimento da palavra, na soletração e descodificação. Estas dificuldades resultam de um défice na componente fonológica da linguagem.
Assim sendo, quais os sinais que devemos estar atentos?
Ainda antes de a criança ingressar no 1º ciclo apresentam alguns indicadores que devemos ter em conta, particularmente quando na história familiar existe a indicação de um diagnóstico de dislexia ou dificuldades de aprendizagem na leitura, pois são crianças com um risco substancial de apresentarem dificuldades nesta área.
Os indicadores precoces para os quais devemos estar atentos durante o pré-escolar são o atraso na linguagem falada, a insensibilidade à rima, dificuldades articulatórias, confusão fonológica e dificuldades em reconhecer e nomear as letras do alfabeto.
Já no 1º ano são notórias sobretudo as dificuldades em estabelecer a relação fonema-grafema (som das letras), dificuldades em manipular os sons (início, meio e fim da palavra) e incapacidade em ler palavras monossilábicas (uma sílaba). Quando se encontram no 2º ano, pode não conseguir ler palavras em voz alta, ler fluentemente ou dividir palavras por sílabas, efetuar uma incorreta articulação em palavras mais longas e tentar descobrir/adivinhar a palavra pelo seu contexto. A criança tende a rejeitar a leitura. No 3ºano, pode omitir palavras ou sílabas, realizar inversão de letras na leitura e na escrita, apresentar dificuldades em converter letras em sons e palavras, ter dificuldades em usar sons para criar palavras, omitir palavras ou sílabas, entre várias outras caraterísticas.
Mas, para além destes sinais da existência de uma fragilidade fonológica, estas crianças têm presentes pontos fortes em processos de nível superior como a concetualização, raciocínio, imaginação, abstração e são excelentes em áreas não dependentes da leitura, como a matemática, informática, artes visuais, entre outras.
É relevante mencionar que estes indicadores não são referentes apenas à dislexia, poderão estar presentes em crianças que apresentem outras problemáticas, tais como: processamento auditivo central e perturbações de linguagem, entre outras.
A identificação precoce de um problema na área da leitura é a chave para a minimização das dificuldades pois, quanto mais cedo forem identificados os sinais, mais rapidamente poderemos ajudar a criança e assim evitar que a autoestima dela seja abalada.
Isabel Sousa
Professora de Educação Especial
mim – Clínica do Desenvolvimento