Sente-se sem forças, costuma isolar-se, muito chorosa, ansiosa e com muita culpa?
A Teresa (nome fictício) veio à consulta por indicação de um familiar. “Foram 9 meses de altos e baixos, quase sempre baixos! Vivi há pouco o “estado de graça” de que sempre ouvi falar, colorido, romântico e com o qual sonhei. Tantas vezes o treinei! – Interrompe-a o choro como que a denunciar uma realidade diferente. Ainda assim, esforça-se por gastar a pouca energia que lhe resta para contar acerca da felicidade que sentiu um dia – Gostava de brincar às mães. Colocava um boneco debaixo da camisola e exibia, vaidosa, uma barriga quase maior do que eu. Sentia-me poderosa! E as camisolas deformadas, rapidamente iam ao ponto – sorri – fosse assim o meu corpo!
Um dia fomos comprar um boneco a Espanha, ainda quando se parava na fronteira. Foi um dos dias mais marcantes da minha vida! Era um “bebé chorão”, o mais parecido que podia ser com um bebé de verdade. Apaixonei-me por ele, adotei-o de imediato e não o larguei por um segundo que fosse. Na viagem de regresso, a tia dizia que o meu “tiernecito” poderia não passar a fronteira. Sofri como uma verdadeira mãe… e é assim que uma mãe deve sofrer por um filho, não é? Deve ser proporcional ao amor que sentimos por ele!
Eu sei, por isso, a mãe que deveria ser, mas não sou. Porquê? O que tenho de errado?” Chorou a seguir. Não voltou a conseguir pronunciar uma só palavra.
Esta história é semelhante à de muitas outras mães cujas angústias não encontram correspondência nas idealizações culturais e é a partir desse sentimento paradoxal entre o ideal e o vivido que uma mulher pode experimentar um profundo sofrimento e, eventualmente, desenvolver a depressão pós-parto. Não podemos considerar que se instale apenas por este motivo, contudo o mito da mãe perfeita pode resultar num sentimento de culpa e incapacidade.
Este transtorno de humor, que afeta entre 10 a 20% das mulheres na fase puerperal, pode resultar de uma combinação de fatores psicológicos e físicos, em que há uma alteração hormonal significativa. O risco aumenta se existe história prévia de depressão, suporte pós-natal deficiente, instabilidade conjugal, gravidez indesejada e outras fontes de stress como dificuldades financeiras, situação de desemprego ou outros. A história da gravidez e eventuais complicações no parto, ou se o bebé nasceu com problemas que merecem maior atenção, são também fatores de risco.
A Depressão Pós-parto distingue-se do, mais frequente, Baby Blues (um estado depressivo mais leve, que habitualmente surge por volta do 3º dia e pode durar até 2 semanas) por ser mais grave, incapacitante, afetar a funcionalidade da mãe e por em perigo o bem-estar desta e do bebé. Na Depressão Pós-parto há uma redução de interesse e prazer nas atividades, fadiga, irritabilidade, choro, tristeza e sentimento de incapacidade e inutilidade. Estes sintomas são persistentes e prejudicam a relação mãe-bebé.
A prevenção deve ser o caminho. Quando a doença está instalada, não pode ser negligenciada. O tratamento psicológico deve ser rapidamente instituído e o apoio integral da família é essencial.
Maria de Castro Ribeiro
Psicóloga Clínica
mim – Clínica do Desenvolvimento