GUERRAS À MESA

O momento da refeição é, para muitas famílias, uma verdadeira dor de cabeça. É comum encontrarmos pais preocupados e angustiados em relação à alimentação dos seus filhos, sem saber o que fazer perante as birras e a recusa alimentar destes.

Nestas situações é importante ter em conta a fase desenvolvimental da criança. O crescimento é caraterizado por grandes avanços em determinados momentos e por um ligeiro abrandamento noutros. Ora, se o crescimento não avança sempre ao mesmo ritmo, a energia necessária também se altera, repercutindo-se no apetite.

A partir dos 2-3 anos de idade a criança tem já adquiridas várias capacidades que permitem uma maior independência. Como tal, a recusa em comer ou em ingerir determinados alimentos poderá surgir como uma forma de afirmar essa independência, terminando geralmente numa luta de poder entre pais e filhos. E quando a alimentação se transforma num confronto de vontades, os pais não ganham nada em forçar os filhos a comer.

Todos sabemos que após um cansativo dia de trabalho, a paciência dos pais para uma correta aplicação de regras à mesa está diminuída, resultando muitas vezes em atitudes menos corretas. Muitos pais acabam, em determinados

momentos, por obrigar a criança a comer, sendo que noutros poderão ceder, como forma de evitar o conflito. Esta inconsistência na resposta conduz inevitavelmente a um desfecho: a criança continuará a fazer birras à mesa.

Muitas das dificuldades em alimentar as crianças surgem devido à ausência de regras em relação à alimentação. Frequentemente as crianças são contempladas a qualquer hora com guloseimas que disfarçam os sinais fisiológicos indicadores de fome. É importante limitar a ingestão de alimentos a horários fixos de forma a regularizar a rotina fisiológica, permitindo que a criança chegue às principais refeições efetivamente com fome.

Além disto, o prolongamento da hora da refeição por tempo indeterminado poderá levar a criança a evitar estar à mesa, a brincar com a comida durante longos períodos de tempo ou a se levantar frequentemente da mesa. O estabelecimento de limites temporais para as refeições poderá ser uma solução. Se a criança não tiver terminado após, por exemplo, 20 minutos, o prato é-lhe retirado sem a oportunidade de terminar o que ficou por ingerir.

Durante esse tempo, procure ignorar os comportamentos desadequados da criança à mesa. Relembre-lhe somente do tempo estabelecido. No fim, não se esqueça de

recompensá-la sempre que esta cumpra o tempo estabelecido e apresente boas maneiras à mesa. Caso esta situação não se verifique e os comportamentos manifestados atinjam proporções pouco aceitáveis, é indicado a recorrência a uma consequência lógica, como ficar sem sobremesa, ser retirada da mesa por alguns momentos até se acalmar (sem ter acesso a brinquedos ou a outro tipo de alimentos), etc. Perante uma situação destas, relaxe e procure não perder a calma. A criança sentir-se-á vitoriosa se perceber que conseguiu incomodá-lo.

Um dos fatores que poderá levar a criança a rejeitar a comida prende-se com a quantidade de alimentos que lhe é apresentada e com a ausência de escolhas. Evite esta situação servindo pequenas porções e dando-lhe a oportunidade de escolher entre dois alimentos saudáveis. Desta forma a criança assume um compromisso, evitando as lutas de poder.

Uma situação muito comum em casa de algumas famílias tem a ver com os alimentos que cada um ingere. Se quer que o seu filho coma sopa e legumes seja o primeiro a dar o exemplo. Divirta-se com os seus filhos a preparar os pratos de legumes, construindo imagens engraçadas com a cenoura, o feijão, a couve, etc. Envolva-o na planificação das refeições da semana e na confeção das mesmas. Este será com certeza um momento bem passado em família, sem a presença do ruído da televisão ou das birras do seu filho.

Paulo R. C. Coelho

Psicólogo da Infância e Adolescência

Diretor Técnico da “mim – Clínica do Desenvolvimento”