Transformar a “atenção negativa” em “atenção positiva”:
O comportamento da criança é uma resposta a múltiplos fatores em múltiplos contextos. As crianças “portam-se mal” porque de alguma forma são recompensadas por isso, ou seja, há algo na forma como respondemos ao “mau” comportamento da criança que as faz repetir esse comportamento, mesmo que a única coisa que recebam seja atenção negativa (sermão). Eis alguns exemplos de como os filhos com o “mau comportamento” conseguem mais atenção do que com o “bom comportamento”: se está a brincar sossegado, ninguém lhe diz nada; se está a ver televisão sem estar a saltar em cima do sofá, até nos esquecemos dele; se come tudo, não lhe dizemos como estamos satisfeitos … há motivos para repetir o comportamento? Talvez não.
Princípios de uma parentalidade “EEFICA’S’”:
Para se ser um pai/mãe eficaz não basta prestar atenção positiva aos comportamentos adequados da criança e brincar com ela. É mesmo necessário sermos pais “EEFICA’S’”:
E – Específicos, claros
Dizer exatamente à criança o que se espera dela: Em vez de “arruma os brinquedos” dizer “põe esses brinquedos na caixa amarela”; em vez de “porta-te bem” dizer “não quero que puxes o cabelo à tua irmã”,… Recordar que as crianças têm cérebros menos desenvolvidos, linguagem menos complexa, e que precisam que se lhes diga exatamente o comportamento que deve ter.
E – Equilíbrio entre o positivo e o negativo
Usar com equilíbrio respostas positivas e negativas: não ficar preso na espiral das punições, em que a criança está sempre de castigo e sem poder fazer aquilo que gosta. A criança perderá todo o prazer em agradar aos pais. Estar atento ao positivo e recompensar imediatamente. Mesmo que pensemos que ao criticar estamos a motivar e que castigar é para o bem das crianças, se pensarmos em nós como adultos percebemos que se só somos criticados deixamos de investir e desistimos de tentar.
F – Resposta significativa frequente
Escolher apenas um ou dois comportamentos que quer ver acontecer mais, dos mais fáceis, e usar com esse comportamento respostas positivas frequentes (atenção positiva, elogios em público e
em privado…). Quanto mais atenção positiva se der a um comportamento mais probabilidades teremos de ele se desenvolver e manter.
I – Resposta positiva imediata
Se a resposta positiva a um bom comportamento não for imediata, a criança não vê a relação entre a recompensa e o comportamento e será ineficaz na sua manutenção. As crianças têm mais dificuldade em adiar recompensas que um adulto. Por exemplo: se um funcionário se esforçou e o patrão ao ver o serviço não elogia, mesmo que pense que está muito bem feito, o empregado sentir-se-á menos motivado.
C – Consistentes
A criança tem de saber exatamente aquilo que esperam dela. É fundamental sermos consistentes quer com as reações positivas (recompensas, elogios e atenção positiva) quer com as negativas (perda de privilégios). Ser consistente torna a vida familiar mais simples e fácil, permitindo que a criança preveja mais facilmente a consequência dos seus atos, esforçando-se para evitar as consequências negativas.
A – Assertivos
Crianças felizes e com “bom comportamento” têm pais assertivos que sabem comunicar com os filhos de forma sincera, olhos nos olhos, pedem favores e fazem favores, expressam o que sentem e o que pensam, ouvem, dizem “por favor” e “obrigado”, cumprem promessas, pensam antes de agir, dão opções, ajudam os filhos a resolverem
problemas e estimulam a independência e autonomia.
S – Consequências significativas
Podem ser sob a forma de recompensas e punições. As recompensas tendem a estar relacionadas com a conquista de um privilégio que não estava previsto, como ir ao cinema após um dia sem conflitos em casa. As punições tendem a estar relacionadas com a perda de privilégios como: se estava programada uma ida a um parque após o almoço e a criança teve um comportamento desadequado à mesa, como consequência não irá ao parque. No entanto, estas têm de ser adequadas à criança e às suas preferências: se a criança não gosta do filme, a recompensa não terá o devido efeito, se a criança prefere ficar em casa a ver TV, a punição de não ir ao parque não será interpretada como tal.
Paulo R. C. Coelho
Psicólogo da Infância e Adolescência
Diretor Técnico da “mim – Clínica do Desenvolvimento”