O aumento da esperança média de vida, subjacente a uma melhoria nos cuidados de saúde, tem levado a que a população sénior se mantenha ativa e independente cada vez até mais tarde, dando-lhes oportunidades para desempenharem ativamente o papel que tanto ansiaram: ser avós.
Ser avô é considerado por muitos como uma experiência compensadora, pois fá-los retornar à infância dos filhos sem a pressão sentida há vinte ou trinta anos. O contacto próximo entre avós e netos possibilita a transmissão de conhecimentos acerca da história familiar, fomentando um crescimento pessoal e social muito importante para os mais pequenos.
As atuais alterações sociais, assim como a crescente participação da mulher no mercado de trabalho, levou a que muitos pais manifestem uma ansiedade elevada em relação aos filhos, nomeadamente com a sua educação, saúde e escola. Em contrapartida os avós têm uma maior tranquilidade, tornando-os numa fonte de afeto e de apoio muito importante para os netos.
O problema surge quando os filhos confundem o papel de pais e de avós. Ambos, embora sejam extremamente importantes, desempenham papéis muito diferentes. A responsabilidade sobre a educação e formação dos filhos recai sobre os pais e não é delegável. São eles que estabelecem as principais linhas educativas, os hábitos e os valores humanos que desejam transmitir. É certo que os avós podem apoiar os pais nessa tarefa, porém nunca devem permitir que estes últimos lhes deleguem por completo essa responsabilidade. É fundamental que uns e outros saibam qual o seu lugar: os pais, como principais responsáveis pela educação dos filhos, e os avós como colaboradores nesta tarefa, e distribuidores de carinho e compreensão.
Quando a educação aparece distribuída por diversos agentes, o surgimento de divergências é comum. Embora educar seja dever dos pais, isso não significa, porém, que os avós devam permitir o mau comportamento das crianças e deixar que os netos façam tudo o que querem. Todos os adultos devem colocar limites aos mais pequenos não permitindo que os mesmos abusem da sua boa vontade, seja qual for a idade. Saber dizer “sim” e “não” no momento exato é fundamental. O perigo de que os avós deseduquem os netos não existirá desde que as crianças não tenham dúvidas sobre onde reside a autoridade.
Vários estudos têm demonstrado que as crianças crescem mais felizes e ajustadas quando os avós desempenham um papel importante em sua educação. A proximidade entre netos e avós é benéfica para o desenvolvimento infantil. A sua presença pode ajudar as crianças a superar situações difíceis, como perdas de elementos significativos, mudanças abruptas na sua vida, divórcio dos pais, etc.
Uma separação ou divórcio leva na maioria dos casos à alteração dos laços entre avós e netos, fruto das profundas mudanças que afetam todos os envolvidos. No entanto esta situação não deve servir de pretexto para impedir o contacto e para destruir os laços que se desenvolvem entre os mais
velhos e os mais novos. Perante situações de separação que envolvam crianças, os pais e os avós não têm direitos, têm obrigações. Por sua vez, a criança tem o direito de ser preparada para a sociedade e isso implica que os adultos cumpram os seus respetivos papéis. Não permitir que os adultos, sejam eles pais, avós ou outros, contribuam para esse processo, significa empobrecer o desenvolvimento infantil de forma irreparável.
Paulo R. C. Coelho
Psicólogo da Infância e Adolescência
Diretor Técnico da “mim – Clínica do Desenvolvimento”